Diretor: Edélcio Vigna.
Elenco: Ana Carolina, Fernando Pessoa, Fernando Sousa e Mary Abrão.

Grupo de Teatro Scrachados

O Grupo Teatro Scrachados (GPS) trabalha o método de atuar focado na pessoa. Herda o despojamento de Grotowski, o distanciamento crítico de Brecht, a violência simbólica de Artaud e não descarta o naturalismo de Stanislavski. Teatro liquidificador. Bem vindo ao nosso mundo.















domingo, 6 de fevereiro de 2011

Esta peça tem significado?


O grupo conversou sobre o que cada um entendia ser a mensagem da peça "Lobos não entram em Labirintos". Houve discordâncias, mas nada tão contraditório que não pudesse ser ajustado.

Conversamos sobre os personagens, as suas incoerências e o que representavam. Ficou estabelecido que se pode visualizar a peça em duas dimensões: a primeira, a dos personagens; a segunda, a dos atores/atrizes. Cada dimensão tem um sentido próprio, mas criam irrealidade que se completam.

Primeira Dimensão. Não há nenhum personagem da Corte (Rei, Bufão, Rainha e Dama de Companhia) que não é ambicioso. Tudo é uma questão de graduação. Uns menos outros mais. Neste sentido há um jogo pelo poder cuja força motriz é a ambição. Os outros personagens (família de arquitetos, guarda e mensageiro) são elos e informação entre as cenas. Há, também, os personagens simbólicos (Brás Cubas, Coelho da Alice e o Inseto de Kafka) que servem para ampliar o universo de entendimento do público e trazem em si a irrealidade que vai toma conta da peça.

Segunda Dimensão. Entre os atores/atrizes pode-se entender que há uma separação de acordo com os papéis que representam. O Ricardo (Rei) e o Sérgio (Bufão), como protagonistas estão acomodados no status quo. A Clarinha (Rainha), que só aparece em uma cena, é a mais incomodada. A Paty (Dama de Companhia) tem baixa ambição, mas segue a rebelde Clarinha. O Diego (empresário/diretor) é movido pela ambição e pelo lucro. Não se importa com a vida dos atores/atrizes, apenas com a bilheteria. As duas atrizes (Jura e Gil) e o ator (Renato), que interpretam a família dos construtores do labirinto, são indiferentes. Estão voltados para os seus problemas individuais.

Dimensão única. Estas duas dimensões representam realidades diferentes. A primeira é a do desatino, da loucura, da confusão. A segunda é uma face da realidade da vivencia dos grupos de teatro. A precariedade das montagens, os baixos investimentos, ajuda de custo irrisório, a imposição do empresário e do diretor. As duas dimensões se encontram em algum ponto do entendimento. Este espaço pode ser na interpretação de alguns, o universo consciente/inconsciente de uma única pessoa. Em síntese, a peça pode retratar um processo de loucura de uma mente desordenada. Os personagens são todo um só personagem que se duplicam e se confundem. Agridem-se, humilham e se humilham. Matam-se e renascem, para conduzir a peça até o seu final.

Nesta ordenação aparentemente incoerente os atores/atrizes poderiam ser o consciente tentando dar uma racionalidade aos personagens, que ao fugirem do espaço inconsciente, tentam apresentar um enredo racional? As interpretações podem divergir, mas continuam sendo olhares que se aproximam de um desenho de nuvens.