"Avatar" já faturou mais de um bilhão de dólares e pode ser o recorde de bilheteria de todos os tempos. É um filme cheio de efeitos visuais para impressionar quem gosta de sessão da tarde. Na maravilhosa da floresta encantada dos homens/mulheres azuis esconde-se uma mensagem poderosa: o mundo unimultipolar só possui polaridades porque o poder ainda é uno.
Depois do filme fiquei convencido que o poder da mídia e da imbecilidade constrói os mitos contemporâneos. A trama do filme é de uma pobreza infinita. Dois povos, os da Terra e os do Planeta Pandora, se enfrentam. Os terráqueos, para variar, estão em crise energética e precisam de um minério que só existe em Pandora, onde vivem os Navi (referência à esperança que ficou no fundo quando foi aberta a caixa de Pandora). Para explorar o minério os terráqueos terão que praticamente destruir o planeta.
O herói rapaz paraplégico cheio de amor para dar (seqüela de guerra) e o Vilão, uma mescla de ogro com sargento do BOPE, ambos norte-americanos. Duas faces da mesma moeda. Yin e Yang. É ridículo ver a preocupação do mocinho em salvar os bárbaros azuis. Assim como é cretino ver o vilão vociferar contra os que opõem ao saque mineral. O compreensivo acelera a ira do repressivo. É estopim da destruição.
O cenário não poderia ser mais significativo: um planeta ecológico e espiritualmente equilibrado, habitado harmonicamente por tribos diversas. As criaturas têm relações íntimas com a natureza. Um éden zen-budista. É um gozo sem pecado. “A menor recompensa para aqueles que se encontram no paraíso é um átrio com 80.000 servos e 72 esposas, sobre o qual repousa um domo decorado com pérolas, águas-marinhas e rubis, tão largo quanto a distância entre Al-Jabiyyah e Sana’a”, tal como se lê no Livro de Sunan, volume IV (livro sagrado do Islamismo).
O espírito da natureza é representado por uma árvore milenar - parece uma sequóia gigante – que domina todas as relações. Esta árvore é o alvo do vilão. Ele quer desmatar, passar o trator por cima. Detonar. O herói, que se transveste por programa de realidade virtual em Navi para espionar, vai se convertendo em um aliado dos azuis, encantado pela filha do chefe – tinha que ser a filha do chefe! Será o grande estrategista da luta entre o bem e o mal norte-americano.
É claro que o bem vence, como venceu o Vietnã, Haiti, El Salvador, Afeganistão, Líbano, Panamá, deixando um rastro de destruição e morte. O herói é tão herói que a natureza exótica conspira para ressuscitá-lo. O morto revive como azul para felicidade da filha do chefe, quem no futuro vai substituir. A harmonia está garantida por aquele que veio de fora.
Os norte-americanos esqueceram rápido os “filhos da vergonha”. Os órfãos por rejeição do Vietnã. Os abandonados em tantos outros cantos do planeta quantas foram as invasões. Eles chegam à Pandora não como esta gente mágica que se chamam de ciganos, mas como predadores do futuro. O herói não é cigano, nem negro, nem hispano-americano, nem judeu, é um típico norte-americano de classe média. Daqueles que pregam bandeira na porta de casa, que montam árvore de Natal e adoram futebol americano com hot-dog.
Avatar veio para reafirmar que o mundo é unipolar. Se houver outros mundos, os heróis de Hollywood vão se transformar em um deles e garantir a unipolaridade planetária. Jamais o herói poderia ser criado em Bollywood, apesar de ter superado Hollywood em número de produções cinematográficas e os indianos serem os mais capacitados na criação de programas visuais.
Avatar não poderia ser produzido na Índia porque no hinduísmo “avatar” é a encarnação de uma divindade sob a forma de um homem ou de um animal, Krishna também é azul. Não poderia ter nascido na China, pois Buda obteve a iluminação sob a árvore bodhi, que simboliza todas as árvores. Não poderia ter nascido no Brasil porque já temos Macunaíma e Jesus de Belém. Seu berço teria que ser em uma nação guerreira, que auto-representa todos os países, que assume a missão de guardião da liberdade.
Este filme é dirigido para crianças e adolescentes, que são abduzidos pela fantasia. É dirigido, também, à população de tolos que abundam este planeta.
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