Diretor: Edélcio Vigna.
Elenco: Ana Carolina, Fernando Pessoa, Fernando Sousa e Mary Abrão.

Grupo de Teatro Scrachados

O Grupo Teatro Scrachados (GPS) trabalha o método de atuar focado na pessoa. Herda o despojamento de Grotowski, o distanciamento crítico de Brecht, a violência simbólica de Artaud e não descarta o naturalismo de Stanislavski. Teatro liquidificador. Bem vindo ao nosso mundo.















quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Scrachados marcam estréia na 508 Sul


O Grupo está pleiteando a Sala Multiuso do Espaço Cultura Cultural Renato Russo (508 sul) para apresentar a peça teatral “Lobos não entram em Labirintos”, de Del Vigna, encenada pelo Grupo de Teatro “Scrachados”.

Estamos solicitando os dias 14 e 15, 21 e 22, 28 e 29 de maio de 2011, sábado e domingo respectivamente. A proposta é apresentar a peça a preços mínimos de R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia) a entrada.

Não está afastada a hipótese de o Grupo fazer uma pré-estréia menos formal, com ingresso gratuito, como pensamos no artigo abaixo.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Informações boas e não tanto


Tenho algumas infomações. Umas boas outras nem tanto.

A primeira, não muito boa, é que o prédio abandonado que estavamos de olho para estrearmos a peça, foi demolido.
Se estívemos dentro daria uma boa notícia do grupo. Perdemos uma oportunidade.
Para quem está chegando agora, o grupo tem a intenção de estrear a peça a meia-noite em um prédio abandonado. Vamos iluminar a peça com tochas.

A boa noticia é que não haverá cobrança de ingressos.
Free.
Passe livre.
A peça começara exatamente a meia-noite.
Exigencia: vontade de assistir a peça e depois falar bem.

Outra coisa, não haverá convite antecipado.
Como o prédio foi demolido (aquele ao lado do Brasília Shopping), vamos ter que sondar outro local igualmente abandonado.

Como já é final de ano, transferimos a estrea para Março de 2011.
Vamos espalhar a notícia de várias formas: aqui no site dos "Scrachados", Mural do Instituto de Artes Dramáticas e do Mural de Artes Plásticas da UnB, no Espaço 508 (Renato Russo) e por email de alguns amigos.

Aguardem!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

TIERRA SIN MAL



Tierra sin Mal un lugar accesible a los vivos, un lugar donde, “sin pasar por la prueba de la muerte” se podía ir en cuerpo y alma.
Tierra sin Mal, ese lugar privilegiado, indestructible, donde la tierra produce por si misma sus frutos y donde no hay muerte.
Allí estaba el significado por el cual elegí ese nombre, ¿A cual tierra perteneces?, ¿Cuál es tu Tierra sin Mal?


Buscar, remitirse, encaminarse hacia ese norte que determine tus actos, realizarse en la tierra de todos y de nadie, tomar posesión de lo que es tuyo, de lo que se te fue dado. El Proyecto Tierra sin Mal es un encuentro de culturas, de personas, de formas de vida, vive y construye tu propia cultura de acuerdo a tu propia vivencia cotidiana.

Nada é impossível de mudar/Exceção e a regra - Bertold Brecht







Desconfie do mais comum.

Examine o que parece habitual.

Não aceite o óbvio como coisa natural, pois em tempo de desordem, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.

Estranhe o que não for estranho.

Tome por inexplicável o habitual.

Sinta-se perplexo ante o quotidiano.

Trate de achar um remédio para o abuso, mas não se esqueça de que o abuso é sempre a regra.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Estrangeirização das Terras do Brasil

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Stultifera Navis – trechos in A história da Loucura, de Foucault


“Aproximem-se um pouco, filhas de Júpiter! Vou demonstrar que o único acesso a sabedoria perfeita, a que chamamos a cidadela da felicidade, é através da loucura (Erasmo de Roterdã).”
Mas, este caminho, mesmo quando não leva a nenhuma sabedoria final, mesmo quando a cidadela que promete não passa de miragem e loucura renovadas, esse caminho é em si mesmo o caminho da sabedoria, se for seguido sabendo-se que se trata justamente do caminho da loucura. O espetáculo inútil, os ruídos frívolos, essa algazarra de sons e cores que faz com que o mundo seja sempre essa apenas o mundo da loucura, é preciso aceitá-la, acolhê-la em si mesmo, porém na clara consciência de sua fatuidade, dessa fatuidade que é tanto a do espectador quanto a do espetáculo. É preciso ouvir esse barulho tão seriamente quanto se ouve a verdade, mas com essa atenção ligeira, mistura de ironia e complacência, de facilidade e de secreto saber que não se deixa enganar, com a qual se ouvem normalmente os espetáculos da feira: não com os ouvidos “que servem para ouvir as prédicas sacras, mas aqueles que se prestam, na feira, aos charlatões, aos palhaços e aos bufões, ou mesmo as orelhas de asno que o nosso rei Midas exibiu diante de Deus”.
Aí, de imediato colorido e barulhento, nessa aceitação cômoda que é uma imperceptível recusa, se desenvolve a própria essência da sabedoria. Sub-repticiamente, pela própria acolhida que ela lhe faz, a razão assume a loucura, delimita-a, toma consciência dela e pode situá-la.
“Quem sabe quão imperceptível é a vizinhança entre a loucura, com as joviais elevações de um espírito livre, e os efeitos de uma virtude suprema e extraordinária?”
Em Cervantes ou Shakespeare, a loucura sempre ocupa um lugar extremo no sentido de que ela não tem recurso. Nada a traz de volta à verdade ou à razão. Ela opera apenas sobre o dilaceramento e, daí, sobre a morte. A loucura, em seus inúteis propósitos, não é vaidade; o vazio que a preenche é “um mal bem além de minha prática”, como diz o médico a respeito de Lady MacBeth. Já se tem aí a plenitude da morte: uma loucura que não precisa de médico, mas apenas de misericórdia divina. A alegria suave, enfim encontrada por Ofélia, não a reconcilia com felicidade alguma; seu canto insano está próximo do essencial quanto “o grito de mulher” que anuncia, ao longo dos corredores do castelo de MacBeth, que “a Rainha morreu”. Sem dúvida a morte de Dom Quixote ocorre numa paisagem calma, que se reconciliou no último instante com a razão e a verdade. Mas, será esta repentina sabedoria da loucura outra coisa que não “uma nova loucura que acaba de entrar-lhe pela cabeça?” Equívoco indefinidamente reversível que só pode ser desfeito, em última instância, pela própria morte. A loucura dissipada só pode constituir uma única entidade com a iminência do fim.
Mas, a loucura logo abandona essas regiões últimas em que Cervantes e Shakespeare a tinham situado. E na literatura do começo do século XVII ela ocupa, de preferência, um lugar intermediário: constitui assim antes o nó que o desenrolar, antes a peripécia que a derradeira iminência. Deslocada na economia das estruturas romanescas e dramáticas, ela autoriza a manifestação da verdade e o retorno apaziguado da razão.
Scudéry sabia muito bem disso quando, querendo fazer em sua “Comédia das Comédias” o teatro do teatro, situou de uma vez sua peça no jogo das ilusões da loucura. Uma parte dos comediantes deve representar o papel de espectador e, os demais, o papel dos atores. É necessário, portanto, de um lado, fingir que se toma o cenário pela realidade, a representação pela vida, enquanto na verdade se está representando num cenário real; e, de outro lado, fingir representar e mimar o ator quando se é, na verdade, simplesmente, um ator que representa. Duplo jogo no qual cada elemento é ele mesmo desdobrado, constituindo assim esta troca renovada entre o real e a ilusão que é, ela mesma, o sentido dramático da loucura.
“Não sei que extravagância é essa de meus companheiros, mas ela é tão grande que sou levado a crer que um encanto qualquer lhes rouba a razão, e o pior é que eles estão tentando fazer com que eu a perca e vocês também. Querem me convencer de que não estou em um teatro, de que esta é a cidade de Lyon, de que ali existe uma hospedaria e aqui um palco, onde os comediantes que não somos nós, e que, no entanto somos nós, representando uma Pastoral”.
Nessa extravagância, o teatro desenvolve sua verdade, que é a de ser ilusão. Coisa que a loucura é, em sentido estrito.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Campanha pelo Limite da Propriedade da Terra

domingo, 25 de julho de 2010

Cena inicial: Lobos não entram em Labirintos

sexta-feira, 16 de julho de 2010

domingo, 11 de julho de 2010

Labirinto – Jorge Luis Borges


Não haverá nunca uma porta. Estás dentro
E a fortaleza abarca o universo
E não tem nem anverso nem reverso
Nem externo muro nem secreto centro.
Não esperes que o rigor de teu caminho
Que teimosamente se bifurca em outro,
Que obstinadamente se bifurca em outro,
Tenha fim. É de ferro teu destino
Como teu juiz. Não aguardes a investida
Do touro que é um homem e cuja estranha
Forma plural dá horror à fantasia
De interminável pedra entretecida.
Não existe. Nada esperes. Nem sequer
No negro crepúsculo a fera.

sábado, 3 de julho de 2010

Personagens - Lobos não entram em Labirintos


O GTS já começou a trabalhar alguns figurinos e projetar alguns personagens da sua próxima peça.
Lobos não entram em Labirintos é uma história de um reino decadente contada por um bufão onde o Rei manda construir um Labirinto.
Há um jogo triangular entre o Rei, o Bufão e a Rainha. A este triangulo se soma outra personagem a Dama-da-Corte. Seria um quadrilátero se as personagens fossem personagens singulares. Mas, no desenrolar da trama estes personagens se assemelham a jogos de espelho. São duplos de uno.
A simbologia da trindade se multiplica na família de construtores do labirinto: pai, mãe e filha. Podem ser traduzidos como uma leitura da idade média da Santíssima Trindade. Construtores de sonhos.
A peça, porém, extrapola o script e há uma rebeldia entre os atores que demandam um novo destino aos personagens. A morte ou a vida de um personagem é um processo temporal que se confunde com a temporalidade dos que os representam. Ela oscila sempre do palco ao camarim.
A morte de um ator ou sua possibilidade recompõe o equilíbrio da peça. Que desliza entre a loucura e o delírio de um Rei (ou de um Bufão?) por um labirinto (ou pelo universo ou pelo inconsciente?) que é infinito (ou finito na morte).
Mas, ainda não é a morte, é somente a decadência. Como diz o Rei, “o homem está seguindo uma linha ascendente na história e uma linha descendente na moral”.
A peça Lobos não entram em Labirintos deverá estar nos palcos de Brasília em novembro de 2010.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Os Scrachados e o Método


O Grupo de Teatro Scrachados (GTS) está exercitando um método e concepção cênica centrada na pessoa. É uma experiência que privilegia o trabalho do ator e da atriz.
Esta proposta não é nova. Bertold Brecht, nos anos 20 do século passado; Jerzy Grotowski, nos anos 70 e 80; Antunes Filho desenvolve seu método desde início dos anos 80. Todos se centraram no ator. O complemento é dispensável.
Na verdade não existe complemento, existe o todo cênico que se apropria da imaginação do espectador. A música, o figurino, o cenário, a iluminação e tudo o mais devem ser realizados pelos atores e deve ter um fim.
Este fim não deve ser utilizado para manipular a percepção do público, mas para auxiliar a esclarecer o que na cena pode passar despercebido. Brecht utilizou a musica para revelar o gestus social, o comportamento de classe de um personagem.
Os Scrachados estão exercitando o método centrado na pessoa humana nos ensaios da peça ‘Lobos não entram em labirintos’. A primeira experiência ocorreu na peça ‘Mudança climática em cinco rounds’, apresentada no ano passado.
Este método é um desafio para o ator/atriz que tem que se libertar dos clichês, dos comportamentos mecânicos e das falsas mascaras que fazem o espectador sofrer.
Em novembro os Scrachados vão estar no palco. Não criam expectativas, não se torturam com o fracasso, nem acreditam que o sucesso vai transformar suas vidas. Carregam a certeza que ao praticar o método melhorarão enquanto mulheres e homens de teatro e se projetarão enquanto seres humanos em um mundo povoado de mascaras e ilusões.

Somos um grupo do nosso tempo. Tradutores dos desafios contemporâneos. Entramos conscientes no labirinto cênico, ideológico, psíquico, social, religioso, simbólico e cultural, acompanhados de alguns ícones que nos conduziram pelos corredores espelhados.




segunda-feira, 31 de maio de 2010

Comentários sobre as Dionisíacas, do Zé Celso


Não posso deixar de fazer alguns comentarios sobre as peças do Teatro Oficina, as Dioniosíacas (quatro peças: Taniko; Cacilda!; Bacantes e Banquete), que estiveram em Brasília, nos dias 27 a 30 de maio.
A proposta do Zé Celso é fazer um Teatro de Estádio, em resumo: uma estrutura que comportava 1.500 pessoas e onde a participação do público é fundamental. Somado a esta dimensão e desejo, as peças pretendem ser uma celebração missa negra-macumba-canaval-orgiástico. Enfim, uma salada paticipativa onde todo mundo poderia se tornar um ser atropofágico na maior normalidade possivel.
A duração das peças - com exceção da Taniko - tinham em média cinco horas. Começava tipo 19h00 e terminava por volta das 2h00 da manhã. Vi muita gente saindo do espetáculo tanto pela hora, como pelo escandalo que provocavam em espíritos menos avisados.
Gostei da Taniko, que se baseava em uma lenda japonesa, muito pareceida com a da peça "Aquele que diz sim e aquele que diz não", de Brecht. Conta a história de um jovem que sai da sua aldeia para vir ao Brasil. No meio do oceno ele fica doente e, manda a lenda, que os doentes tem que ser atirado ao mar.Os marinheiros devem perguntar para o doente: "você quer voltar ou ficar?". Ele deve responder "quero ficar" e ai os amigos o matam o jogam no mar.O ritual é cumprido, mas o Mestre pergunta para os marinheiros se a grande Regra não deve ser alterada, pois não se pode matar aqueles que amamos. Assim, são chamados os deuses do Oceano: Yemanja (uma negra semi-nua, toda paramentada). O jovem é rescucitado e a peça termina em paz.
Muita cantoria, muita plasticidade, muito bom gosto com um figurino simples, feito de materiais recláveis e papel.
A Cacilda!! (Estrela Brasyleira a Vagar), de cinco horas de duração, me cansou não pelo tempo, mas pelo detalhamento excessivo e pela repetição. O mecanismo do espetáculo, que se repetiu em todos os demais, é o seguinte: os atores contam um trecho do roteiro (que pode ser de uma hora, por exemplo) e depois fazem uma dinâmica carnavalesca onde chamam o publico... e a moçada embarca legal! Neste contexto a história da vida de Cacilda, para mim, ficou muito confusa.
A peça Bancantes, que era a marca registrada do Oficina, deixou a desejar. A história de Dionísios que se mistura com uma disputa de poder entre o Espiritual e o Temporal, em um contexto RioCarnavalescoTuristico era tão contraditório, que nem os nús seguraram o pessoal depois do intervalo, que ocorreu por volta das onze horas.
Não fui ver o Banquete, mas acredito que seguiu a mesma repetição mecânica de contar e puxar a participação...
Esta participação não acrescenta nada ao espetáculo, é apenas uma forma de fazer o publico se mexer para não dormir ou evitar que o pessoal boceje muito alto.
Os atores e o Zé Celso se divertem muito, mas que cansa, cansa!

domingo, 30 de maio de 2010

Cacilda II, de Zé Celso

Bacantes, de Zè Celso

Cacilda!! - Teatro Zé Celso

domingo, 23 de maio de 2010

Ser ou não Ator?


Antunes Filho, diretor do Centro de Pesquisa Teatral, trabalha com pesquisas, laboratórios, exercícios e direção artística de peças e espetáculos.

Há um caminho a seguir?
Quem faz o caminho é a própria pessoa. Não tem certo ou errado. O que eu costumo dizer para as pessoas que chegam no CPT é que antes de pensar o artista temos que formar o homem, o cidadão, depois vem o artista. E depois, não há ''o'' caminho, há o caminhar. Um ator não tem que estar nem na partida nem na chegada, tem que estar no meio, entre as coisas.

Qual o princípio básico de um ator? O que ele deve desejar em primeiro lugar?
Não sei. Acho que o que é importante dizer é que as pessoas vêm já querendo pegar o texto e sair falando... Mas falando o quê? Para quem? Por quê? De onde? Para quê? Eu posso ter vontade de tocar piano, mas não tenho técnica, não sei tocar. A ''intenção'' não basta. É preciso técnica, sem técnica o ator não sai do lugar. Técnica e cultura. Muita cultura: conhecer música, artes plásticas, literatura, cinema (bom cinema!). Teatro é relação entre as coisas.

Como prepara atores?
Eu não preparo nada. Quem prepara é o processo. O que isso quer dizer? Quer dizer que, no dia-a-dia, resquícios dos ensaios vão ficando, cada dia de ensaio é uma camada, um esboço para o quadro que se pretende pintar. Então, nesse sentido, as pessoas ''se'' preparam, indicamos, apontamos caminhos e abrimos a porta, e a pessoa segue.

Consegue distinguir quem tem alma?
Eu já acertei algumas vezes e errei outras. Às vezes, eu reprovo alguém nos testes para o CPTzinho e a pessoa fica brava, triste, chateada. Mas não é nada pessoal. Se ela for de teatro, nós vamos nos encontrar lá na frente, como já aconteceu muitas vezes para quem eu já havia dito que não dava e deu. E outras vezes, eu já falei sim para pessoas que depois entenderam que não eram de teatro. Então, é muito relativo.

Onde busca referências?
As referências são as coisas mais importantes para qualquer coisa no teatro. Eu sempre peço para os meus atores assistirem a filmes que tenham relação com o que estamos trabalhando, irem às exposições, a lerem obras correlatas com aquilo que se está fazendo. Como é que eu vou fazer alguma coisa sem uma base de onde partir? Não dá! É tudo sempre um diálogo com alguma outra coisa. Mesmo que eu quebre a minha referência inicial. Sem base, não se sai do lugar.
Algumas pessoas desistem da arte da dramaturgia porque não conseguem ganhar dinheiro em um curto prazo.

Como solucionar a questão financeira?
Quando a gente quer, a gente se vira. Trabalha à noite, não dorme, não come. O artista é um inquieto por natureza. O sacrifício no início da carreira faz parte do aprendizado, com a sorte nos ajudando. Ou será que é a gente que faz a sorte?

Por Elisa Duarte

http://contigo.abril.com.br/reportagem/antunes-filho-formacao-ator-348800.shtml



Ser ou não ator?


José Celso Martinzez é criador do Teatro Oficina. O diretor começou a ser visto como referência teatral após o espetáculo O Rei da Vela (1967), de Oswald de Andrade, considerado uma das montagens mais inovadoras do diretor pelos acessórios, cenário e músicas.

Quais as bases para uma pessoa permanecer na carreira de teatro e perseverar na profissão de ator? Há um caminho a seguir?
Não há caminho certo. Ao contrário, é preciso inventar caminhos, impulsionado pelos teus desejos mais secretos, mais proibidos, considerados ''errados'', tabus pela maioria do rebanho. Mas o teatro você faz com outros, não é uma arte solitária. Você precisa comungar, comer e ser comido por pessoas que, por coincidência milagrosa no tempo, você encontra, que queiram partir contigo, na busca de dar pelo teatro mais vida às suas vidas e à vida de todo mundo: o público do seu tempo. É como encontrar muitos amantes, encontrar os parceiros de jogo desta orgia que é o teatro. Para permanecer nesta "roça", é preciso ser antes de tudo "um forte", pois você vai ter que dia a dia, noite a noite, conquistar tua permanência sambando na corda bamba da fatalidade, que são as transformações permanentes da vida e da morte. Estar plugado sempre em todo mundo, mas ir mais além no risco, na beleza, com ginga na arte de teatro, que é a mesma que a de amar e a de viver.

Qual o princípio básico de um ator? O que ele deve desejar em primeiro lugar?
Ator é o que age, atua em si mesmo, no outro, na matéria do mundo. O ator não ''deve'' nada, ele tem é de assumir seu poder humano, o poder do seu corpo, que é quem sabe o que ele, corpo, quer desejar. Atuar é desejar outros corpos do mundo, além das máscaras profissionais, da idade, de classe, dos armários, enfim, além do bem e do mal. Teu próprio desejo vai descobrir - no espelho do desejo dos outros você vai escolher como companhia através da poesia do teatro de hoje e do mais antigo.

Como prepara seus atores?
Preparando-me para merecer encontrar atores. Atuando sobre a coragem do meu instinto para entrar em sintonia com os que mexem comigo, isto é, que atuam comigo. É como o namoro. É difícil explicar por que você ama umas pessoas e não outras. Os atores e atrizes revelam-se como enamorados. A arte do teatro não é diferente da arte da paixão, de produzir e adorar a beleza, da arte de viver intensamente, enfim. Não há coisa mais deliciosa do que a vida de artista, mas custa muito caro. Precisa de muito instinto e felicidade guerreira.

O que pensa grande número de pessoas que buscam a carreira de ator apenas para ficarem famosas?
A arte do ator é a da interpretação da vida a partir do seu corpo, em contato com tudo e todos pelos seus sentidos. O ator que se vende para tornar-se celebridade, ter fama, ficar rico, ter prestígio social, sacrifica muitas vezes sua arte, que é a de interpretar-se e passa a ser interpretado pelos marqueteiros do ibope. Claro que o ator quer e merece ser reconhecido, é justíssimo, mas os que têm o que dizer ao mundo são mais ambiciosos, querem mais que ser celebridade, querem ser eternos, imortais na sua total mortalidade. Estes deixam vestígio de sua passagem no mundo, tatuam o coração da condição humana.

Por Elisa Duarte

http://contigo.abril.com.br/reportagem/jose-celso-martinez-correa-formacao-ator-348803.shtml