Antunes Filho, diretor do Centro de Pesquisa Teatral, trabalha com pesquisas, laboratórios, exercícios e direção artística de peças e espetáculos.
Há um caminho a seguir?
Quem faz o caminho é a própria pessoa. Não tem certo ou errado. O que eu costumo dizer para as pessoas que chegam no CPT é que antes de pensar o artista temos que formar o homem, o cidadão, depois vem o artista. E depois, não há ''o'' caminho, há o caminhar. Um ator não tem que estar nem na partida nem na chegada, tem que estar no meio, entre as coisas.
Qual o princípio básico de um ator? O que ele deve desejar em primeiro lugar?
Não sei. Acho que o que é importante dizer é que as pessoas vêm já querendo pegar o texto e sair falando... Mas falando o quê? Para quem? Por quê? De onde? Para quê? Eu posso ter vontade de tocar piano, mas não tenho técnica, não sei tocar. A ''intenção'' não basta. É preciso técnica, sem técnica o ator não sai do lugar. Técnica e cultura. Muita cultura: conhecer música, artes plásticas, literatura, cinema (bom cinema!). Teatro é relação entre as coisas.
Como prepara atores?
Eu não preparo nada. Quem prepara é o processo. O que isso quer dizer? Quer dizer que, no dia-a-dia, resquícios dos ensaios vão ficando, cada dia de ensaio é uma camada, um esboço para o quadro que se pretende pintar. Então, nesse sentido, as pessoas ''se'' preparam, indicamos, apontamos caminhos e abrimos a porta, e a pessoa segue.
Consegue distinguir quem tem alma?
Eu já acertei algumas vezes e errei outras. Às vezes, eu reprovo alguém nos testes para o CPTzinho e a pessoa fica brava, triste, chateada. Mas não é nada pessoal. Se ela for de teatro, nós vamos nos encontrar lá na frente, como já aconteceu muitas vezes para quem eu já havia dito que não dava e deu. E outras vezes, eu já falei sim para pessoas que depois entenderam que não eram de teatro. Então, é muito relativo.
Onde busca referências?
As referências são as coisas mais importantes para qualquer coisa no teatro. Eu sempre peço para os meus atores assistirem a filmes que tenham relação com o que estamos trabalhando, irem às exposições, a lerem obras correlatas com aquilo que se está fazendo. Como é que eu vou fazer alguma coisa sem uma base de onde partir? Não dá! É tudo sempre um diálogo com alguma outra coisa. Mesmo que eu quebre a minha referência inicial. Sem base, não se sai do lugar.
Algumas pessoas desistem da arte da dramaturgia porque não conseguem ganhar dinheiro em um curto prazo.
Como solucionar a questão financeira?
Quando a gente quer, a gente se vira. Trabalha à noite, não dorme, não come. O artista é um inquieto por natureza. O sacrifício no início da carreira faz parte do aprendizado, com a sorte nos ajudando. Ou será que é a gente que faz a sorte?
Por Elisa Duarte
http://contigo.abril.com.br/reportagem/antunes-filho-formacao-ator-348800.shtml
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